Pesquisas mostram que nosso cérebro recompensa atitudes solidárias... mas apenas com quem sentimos que pertence ao nosso grupo social.
A solidariedade, ao contrário do que muitos pensam, não nasce apenas da empatia. Estudos recentes mostram que a principal força por trás do comportamento pró-social é o sentimento de pertencimento. A descoberta vem da neurociência: quando ajudamos alguém do nosso grupo, nosso cérebro libera recompensas, o que reforça a ação solidária. Ou seja, ajudar os nossos é biologicamente prazeroso.
A empatia, definida como a capacidade de perceber e compartilhar as emoções alheias, está presente em nossa espécie – e em outras também. No entanto, há uma “lacuna de empatia”: nossa sensibilidade tende a ser seletiva. Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em estudo publicado na revista eLife, mostraram que nossa empatia é mais intensa com quem consideramos parte do nosso grupo.
O experimento com ratos e a revelação neurológica
A pesquisa envolveu roedores que foram colocados em situações nas quais um deles ficava preso em uma armadilha. Quando o animal preso pertencia ao mesmo grupo dos demais, os outros tentavam libertá-lo. Porém, se o roedor fosse de outro grupo, era ignorado. Essa indiferença não era crueldade, mas um comportamento neurologicamente condicionado.
A análise cerebral dos ratos revelou que o sistema de motivação e recompensa era ativado apenas quando o animal preso era reconhecido como "um dos nossos". Curiosamente, essa mesma área cerebral é ativada em humanos quando sentimos prazer, como ao comer chocolate.
Os pesquisadores sugerem que essa predisposição evolutiva vem do cuidado parental, base das espécies sociais. Sentir prazer ao ajudar “os nossos” é um mecanismo que fortalece a sobrevivência do grupo.
Empatia é instinto. Pertencimento é motivação.
Essa descoberta pode ter grande impacto social. Incentivar a empatia é nobre, mas talvez estimular o senso de pertencimento seja ainda mais eficaz para promover comportamentos altruístas. A ideia é expandir os limites do “nosso grupo” – ampliando os círculos de pertencimento para que mais pessoas sejam percebidas como dignas de cuidado.
Afinal, quanto maior for o grupo ao qual sentimos que pertencemos, maior será nossa disposição em ajudar.
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